Xepa Cerebral

23 novembro 2009

Drogas


Queria ser um artista. Vertente qualquer. Músico, pintor, poeta, escritor, performático. Inspirar ideias e expelir sentimentos. Inspirar sentimentos e expelir ideias. Juntar racional com emocional resultando em uma obra explosiva, única, exclusiva. E somente interpretada por mim. Ou nem isso. A análise de um momento, um retrato do sentimento e do pensamento, algo impossível de fotografar. E, para mim, de expressar.

Moro hoje no continente da cultura, em uma cidade rica em expressões artísticas, Barcelona. Quero ficar aqui para sempre. Nunca quis ter vindo.

Eu vivo paradoxos. Sou um paradoxo ambulante. Sou um capitalista comunista, um egoísta de coração enorme, um egocentrista discreto, um auto-suficiente carente.

Sinto saudades e quero me manter distante. Saudade que somente existe em português, idioma tão rico, lindo e maltratado. Cultura que é apagada dia após dia por milhares de ignorantes ou indiferentes à beleza das pequenas coisas. Nas coisas que realmente importam.

Confesso que sou um desses também. Todos somos, inconscientes. E, quando percebemos, nos sentimos mal por uma série de coisas. Arrependimento jamais, não podemos nos arrepender do que fizemos. Devemos nos arrepender do que não fizemos.

Apesar de estar há pouco tempo fora, vejo uma transformação enorme em mim. Estou me conhecendo melhor, tendo minhas fraquezas muito à mostra, para mim mesmo. Sou uma fachada de força à frente uma alma entorpecida pelo peso das coisas.

Minha vida literalmente virou de pontacabeça desde que vim. É incrível como as coisas mudam em dois meses. Perdi coisas que eram as mais valiosas. Vi lados meus que deveria ter valorizado e que nunca o fiz.

Nessas horas, queria ser artista. Há tanto a expressar! E extrema incapacidade em fazê-lo. Isso aliviaria muito da tormenta que é minha cabeça. Minha alma.

Sou um cara convicto do que quer carregado de confusão e incertezas. Um paradoxo.

E novamente a Morphina me ajuda a aliviar essa tensão interna. Aliviar?

A amargura toma conta do cara alegre enquanto o bom humor apaga a tristeza. A dureza prevalece enquanto a paixão pelo em volta toma conta de mim. Contradições simultâneas. Uma montanha russa de emoções e pensamentos.

Nesse tempo cuja minha maior e melhor companhia é meu reflexo no espelho, meu contato comigo mesmo, vejo como sou um cara chato e legal. Vejo como me dedicava a muitas coisas e renegava outras. A intensidade disso, o peso e o valor.

A solidão é boa. A solidão é uma merda. A solidão é uma vontade e um medo eterno.

A solidão é uma droga. Eu nunca quis ser um drogado.

4 Comentarios:

  • Vc tá do outro lado do mundo, mas sozinho vc n fica nunca!!! Nem q seja fazendo uma ligação internacional, vc sempre vai ter seu amigo p conversar... se n tem o ombro e o abraço, tem sempre o incentivo, a torcida e o pensament positivo!!!
    Gde abraço, meu irmãozão!!!

    By Blogger Unknown, at 23/11/09 11:52 PM  

  • Como o João disse aí, sozinho tu não fica, rapá...

    E, fica tranquilo aí, pelo menos essa Morphina aí não te dá parada cardíaca!! =P

    By Blogger Marcos Vinícius, at 24/11/09 12:10 AM  

  • Eu me pergunto o que falta pra vc ser um artista...
    Se o objetivo da arte é nos botar pra pensar e tentar refletir sobre os sentimentos mais intrinsecos (não sei se essa palavra cai bem, talvez seja redundancia) seus textos fazem isso com maestria.

    Quanto às dificuldades aí, por mais barra que esteja, vc vai voltar daí muito maior que já é. Então tudo vai ter valido a pena.

    By Anonymous rafael r, at 26/11/09 2:50 PM  

  • Assim embaixo do que o Rafael disse! Seus textos ultimamente tem sido arte pura!

    Pra animar, ao invés de morfina, ouça Morphine, que vc me apresentou! Rssss!

    Você é forte como Rocky Balboa, vai conseguir vencer qualquer batalha. Abração!

    By Anonymous Felipe, at 28/11/09 8:09 PM  

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